A cefaleia, ou dor de cabeça, é uma das causas mais comuns de atendimentos médicos nos prontos-socorros, assim como também uma das queixas mais frequentes em consultórios.
As características como tipos, localizações, intensidades, sintomas associados e outras são variáveis entre os indivíduos acometidos, às vezes apresentando-se com quadros bastante limitantes.
Frente a tal variedade, fora criada uma Classificação Internacional das Cefaléias, na Alemanha, em 1988. Tal classificação deu-se a partir das diferentes características das cefaleias queixadas pelos pacientes, a fim de criar uma homogeneização para os critérios diagnósticos dos diferentes tipos e causas de dor de cabeça.
Assim, hoje em sua terceira edição e utilizada mundialmente, tal classificação propõe a divisão em cefaleias primárias e secundárias.
As cefaleias primárias são transtornos neurológicos em sua origem, ocasionadas por diferentes alterações do sistema nervoso central, onde os critérios diagnósticos envolvem primordialmente as características da dor de cabeça referida pelos pacientes, nas quais o exame de imagem não é obrigatório (e muitas vezes, desnecessário) ao diagnóstico correto. Entre elas encontram-se a Cefaleia Tipo Tensional, a Enxaqueca (com aura e sem aura), as Cefaleias Trigemino-Autonomicas e as Outras Cefaleias Primarias.
As cefaleias secundarias são as dores de cabeça em que estas são sintomas associados a outras causas principais, como as dores secundárias à meningites, sangramentos cerebrais, neuralgia do trigêmeo, uso de medicamentos e drogas, tromboses venosas cerebrais, entre outros. Em boa parte desses casos, os exames de imagem como Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética, além de outros exames subsidiários como a análise do liquido cerebroespinal (ou liquor), são de suma importância para o diagnóstico correto.
As cefaleias primárias mais frequentes são a Cefaleia Tipo Tensional e a Enxaqueca. A Cefaleia Tipo Tensional é, estatisticamente, a causa mais comum de dores de cabeça, geralmente de intensidade mais leve e menos refratária ao tratamento. Contudo, quando frequente e não diagnosticada e tratada corretamente, pode apresentar cronificação e prejuízos à qualidade de vida.
A Enxaqueca, também conhecida como Migrânea, é a segunda causa mais comum de dores de cabeça, frequentemente levando a prejuízos importantes da qualidade de vida e ao uso abusivo de analgésicos (quando tratada incorretamente), o que pode ocasionar sua refratariedade e cronificação. Trata-se de condição mais comum em mulheres jovens, mas podendo acometer tanto homens quanto mulheres, em diferentes faixas etárias. Existem diferentes variantes da Migrânea, sendo as mais conhecidas e frequentes a Migrânea Sem Aura e Com Aura.
A aura é o fenômeno que precede a instalação da dor de cabeça nas crises de Enxaqueca, em cerca de 5 a 60 minutos, podendo manifestar-se como sintomas visuais positivos (cintilações) e negativos (perda do campo visual e borramento), sensitivos (formigamentos e sensação de anestesia), motoras (perda da força de uma parte do corpo), relacionados à linguagem, denominados afasia (com dificuldade de expressar-se e na compreensão) e outros, como vertigem, alterações do nível de consciência, dificuldade para articular palavras (ou disartria), entre outros. Tais episódios são comumente confundidos com Acidentes Vasculares Cerebrais (o AVC ou popularmente conhecido como derrame), o que pode culminar em tratamento errôneo e inadequado.
Outra causa de dores de cabeça muito fortes mas de frequência menor é um dos tipos do que se chama Cefaleias Trigemino-autonomicas: a Cefaleia Em Salvas.
A Cefaleia Em Salvas é uma modalidade de dor de cabeça mais comum em homens adultos, com aparente correlação com tabagismo e uso de álcool, de fortíssima intensidade, acompanhada do que se denomina “fenômenos autonômicos”, que compreendem sintomas como vermelhidão da esclera (parte branca dos olhos), queda da pálpebra (ptose), obstrução nasal e coriza do mesmo lado da dor, pupila constrita (miose), alteração da sudorese do rosto no mesmo lado da dor.
O tratamento das cefaleias também difere de acordo com o tipo em questão. No entanto, em sua maioria compreende um tratamento profilático, a fim de evitar a ocorrência dos episódios de dor, além do tratamento das crises agudas. Podem-se valer de diferentes medicamentos, como antidepressivos, anticonvulsivantes, anti-hipertensivos, medicamentos para arritmia, além dos analgésicos e anti-inflamatórios de uso habitual nas crises. Mais recentemente, também se tem dado espaço a outras modalidades de tratamento, cada qual com sua indicação, como a toxina botulínica, aparelhos de estimulação transcraniana, Terapia Cognitivo Comportamental, Mindfulness, entre outros.
Independentemente da causa e do tratamento, há de se ter em mente que as dores de cabeça, apesar de comuns, não são normais e que, quando o diagnóstico e tratamento inadequados são aplicados, podem acarretar em importante prejuízo ao indivíduo e sua qualidade de vida.
O médico neurologista é o profissional devidamente capacitado para a realização do diagnóstico e proposição do tratamento adequado às pessoas acometidas pelas cefaleias.