Vamos falar de Comunicação Alternativa?

Vamos falar de Comunicação Alternativa?

Escrito por: Dra. Alessandra Gomes Buosi (Fonoaudióloga – crfa 2-8.246);

A Comunicação Suplementar Alternativa (CSA) inclui todas as formas de comunicação (outras que não a fala) usadas para expressar pensamentos, necessidades, vontades e ideias”.  ( ASHA, 2017)

Ao contrário do que, geralmente, vem à cabeça das pessoas, o recurso de CSA eficiente vai muito além de proporcionar ao usuário a habilidade de realizar pedidos. Existem muitas funções de comunicação como fazer comentários, expressar emoções, solicitar atenção, pedir ajuda, responder a perguntas, solicitar informação, nomear, aceitar, rejeitar, cumprimentar, entre outras (Porter & Iacono, 2007).

E nesse sentido, muito se tem discutido sobre a importância do uso de Sistemas Robustos de Comunicação, que devem se pautar em quatro princípios básicos:

  1. Ampla gama de funções comunicativas, já que as funções aparecem antes das palavras no desenvolvimento de linguagem. Já observaram como antes mesmo de falar, os bebês fazem gestos representativos com função de comunicação? Apontam para o que querem, mandam beijo para estabelecer uma relação, gesticulam para chamar e assim por diante.
  2. Obedecer símbolos e padrões estabelecidos, já que nesse momento a relevância entre a escolha de fotos ou símbolos com outro tipo de imagens é menor em comparação a importância de mantê-los após selecionados, assim como a organização dos mesmos em um livro ou prancha de comunicação. Nossa memória de trabalho agradece quando executamos tarefas com objetos e símbolos localizados de modo rotineiro. Imagine o caos se os ícones do seu celular mudassem de aparência e localização toda manhã! É isso que acontece se trabalhamos sem um padrão de imagens ou de localização no sistema de CSA.
  3. Possibilitar a progressão do desenvolvimento em termos de funções, vocabulário e sintaxe. O desenvolvimento típico de linguagem leva em torno de 9 a 12 anos para acontecer completamente e ao longo desse tempo além das funções comunicativas, o número de palavras aumenta assim como a estrutura das frases vai ficando mais adequada.
  4. Ser compatível com estratégias de implementação e estimulação de linguagem auxiliada por símbolos. Nesse sentido,  para a criança aprender a usar o sistema de CSA e  se apropriar dele, ela precisa ver seu sistema sendo usado por outros em contextos naturais, e isso chama-se Modelagem. Para modelar eu preciso de um vocabulário mínimo para as funções de linguagem iniciais que eu quero estimular, nas situações que escolhi começar meu trabalho. Torna-se inviável modelar se eu começo com um sistema de comunicação que tenha 2, 3 ou 4 símbolos.

Para que a modelagem seja efetiva em contextos naturais, ou seja, para que a criança esteja Imersa na CSA, é preciso que seu sistema esteja disponível em todos os ambientes e situações. A partir daí entramos no conceito de Acessibilidade Comunicativa, que propõe que a CSA esteja acessível, ao alcance de todos e que nós, parceiros de comunicação, assumamos a responsabilidade de disponibilizar o recurso inicialmente.

Mitos

Apesar de pesquisas desde antes da década de 80 demonstrarem que o uso da CSA só auxilia no desenvolvimento da linguagem, aspectos, cognitivos, sociais, comunicação funcional e se houver potencial, na própria fala, ainda hoje, infelizmente, ainda se ouve que o uso de um sistema de CSA pode impedir a fala por deixar a criança acomodada ou preguiçosa.

 Essa é uma idéia totalmente equivocada! A fonoaudióloga Margareth Fish,     referência em Apraxia de Fala na Infância, relata que “mesmo para crianças muito pequenas, não há necessidade de esperar longos períodos de tempo antes da introdução de um sistema de CSA. Pois, se o sistema for oferecido apenas como último recurso e somente após todas as tentativas de estimulação de  fala, a criança terá perdido meses ou talvez anos de oportunidades para estabelecer a comunicação simbólica intencional e se tornar um participante ativo do processo de comunicação”.

Essa colocação se aplica não somente aos casos de apraxia de fala, mas a  todos aqueles que tenham fatores de risco para alteração no desenvolvimento da fala e linguagem como paralisia cerebral,  transtorno do espectro autista, sindromes de Rett e Angelman assim como várias sindromes.

 

Alessandra Gomes Buosi

Fonoaudióloga – crfa 2-8.246

Mestre em Ciências da Saúde

Formadora Oficial do Método PODD de Comunicação Alternativa

Responsável pela Clarear Fonoaudiologia

@clarearfonoaudiologia