Distúrbios do Movimento na Infância

Distúrbios do Movimento na Infância

Escrito por: Maria Cecilia Holanda, acadêmica do 6º. Período da Faculdade Pernambucana de Saúde, sob supervisão da Dra. Christiane Cobas, Neurologista Infantil e Neurofisiologista do INISP, CRM/SP 71369. Projeto Padrinhos Med.

Os distúrbios do movimento são síndromes que envolvem prejuízo na regulação dos movimentos voluntários, aparecimento de movimentos involuntários e fora de contexto, além de problemas posturais.

Os distúrbios do movimento podem ser divididos em subtipos hipercinético (muito movimento) e hipocinético (pouco movimento). Este último é pouco frequente na infância. Existem diversas síndromes clínicas hipercinéticas, como: tiques, estereotipias, coreias, distonias, tremores e mioclonias. Elas podem ter etiologias variadas e podem ocorrer concomitantemente.


Para identificar e diferenciar as hipercinesias, é importante levar em conta a evolução temporal do distúrbio (se agudo, subagudo, crônico), a presença ou não de exacerbações, fatores desencadeantes, se a criança consegue voluntariamente cessar o movimento, a presença de outros sintomas associados, a história familiar. É preciso, também, observar os movimentos espontâneos da criança e, para isso, muitas vezes é importante avaliar as filmagens caseiras que os pais trazem.

Considerando que o desenvolvimento neuropsicomotor ocorre ao longo da infância, é essencial estabelecer se a criança apresenta comportamentos adequados para a idade ou se apresenta algum padrão de regressão funcional, o qual é sempre patológico. Ou seja, se uma criança deixa que realizar funções que antes dominava (como andar ou segurar objetos), é de suma importância investigar o motivo de isso estar acontecendo.


Uma vez que esses distúrbios podem afetar a vida social, a frequência à escola e mesmo a autoestima da criança, é interessante conhecer um pouco sobre eles, para saber quando suspeitar e procurar atendimento médico.


Tipos de movimentos anormais:


– Tiques:
São movimentos ou vocalizações involuntários, abruptos, repetitivos e não rítmicos. Podem afetar um único músculo ou grupo muscular (tique simples) ou envolver uma sequência de movimentos (tique complexo). Os tiques podem se apresentar, também, de maneira fônica, por meio de repetição de palavras, sílabas, frases. Além disso, costumam piorar com o estresse e melhorar com o sono.

– Estereotipias:
São movimentos repetitivos, simples ou complexos, que a criança consegue suprimir voluntariamente. São comuns em crianças com transtorno do espectro autista, deficiência intelectual ou outras doenças do neurodesenvolvimento, mas podem ocorrer em crianças com o neurodesenvolvimento típico, mas que passaram, por exemplo, por eventos estressantes.

– Coreia:
Os sintomas motores têm um início abrupto, são rápidos, aleatórios, podendo afetar qualquer parte do corpo, migrar e predominar em um hemisfério corporal. Esse caráter migratório lembra uma “dança ondulante”. A chamada “coreia de Sydenham” é uma importante manifestação da febre reumática, ocorrendo, geralmente, em indivíduos dos 5 aos 13 anos.

– Mioclonia:
Manifesta-se por meio de movimentos súbitos, rápidos, repetitivos e não rítmicos, que podem ser espontâneos ou desencadeados por movimento ou por estimulação sensitiva ou sensorial. A mioclonia pode ser classificada em fisiológica (mioclonia do sono, soluços, induzida por estresse); essencial (não apresenta nenhum outro distúrbio neurológico associado); epiléptica; e sintomática (causada por medicamentos, lesão cerebral, anormalidades de eletrólitos, encefalopatia).


– Distonia:
É caracterizada por contrações musculares repetitivas e sustentadas que resultam em posturas anormais, podendo afetar membros, tronco e face. Em crianças, as distonias costumam começar de maneira focal, ou seja, em uma única parte do corpo, e tendem a se generalizar.

– Tremor:
Tremores são movimentos oscilantes, involuntários e rítmicos. Fisiologicamente, todas as pessoas têm um tremor de baixa amplitude que contribui para a manutenção da postural. Porém, existem fatores que aumentam esse tremor fisiológico, como ansiedade, exercício, fadiga, estresse e alguns medicamentos. Em crianças, é exatamente esse tipo de tremor, chamado de tremor essencial, o mais comum. Em crianças pequenas, o tremor essencial muitas vezes se manifesta na forma de agitação.

FONTE:

PEREIRA, H.V.F.S.; MOREIRA, A.S.S. Neurologia pediátrica – 2ª edição. Manole, 2020.

PIÑA-GARZA, J. Eric. Fenichel Neurologia Clínica Pediátrica – 7ª edição. GEN Guanabara Koogan, 2014.