Epilepsia Ausência na Infância

Epilepsia Ausência na Infância

Escrito por: Dra. Christiane Cobas, Neurologista Infantil e Neurofisiologista do INISP, CRM/SP 71369 e Cristiana Silva Mascarenhas, acadêmica do 6º Período da Universidade Federal de Ouro Preto.

A epilepsia ausência na infância, também conhecida como o “pequeno mal”, é caracterizada por breve perda de consciência, com duração em torno de 10 a 30 segundos, que pode ocorrer várias vezes ao dia. Geralmente, começa entre os quatro e sete anos de idade e é responsável por 10% a 17% das epilepsias em crianças com idade inferior a 16 anos. Embora acometa ambos os sexos, é mais frequente no feminino. Como é uma forma de epilepsia generalizada geneticamente determinada, é comum encontrar história familiar de epilepsia.

Nas crises de ausência, além da rápida perda de consciência, pode-se observar alguns automatismos, pequenos movimentos com as mãos e a cabeça; piscamentos palpebrais, alguma contração dos músculos do rosto (mioclonias faciais) e, com menos frequência, sintomas como arrepio, salivação, incontinência urinária e dilatação da pupila. Vale lembrar que, geralmente, após a crise, o paciente costuma volta naturalmente à atividade que exercia, sem percepção do ocorrido.

Embora a maioria das crianças com epilepsia ausência infantil apresentem desenvolvimento neuropsicomotor normal, podem existir comorbidades como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e transtornos de aprendizagem. Por isso é de extrema importância que a criança seja diagnosticada e tratada adequadamente o mais breve possível.

Em relação ao diagnóstico, é importante destacar que, crianças com quadros típicos de ausência infantil são frequentemente identificadas como desatentas, procuram atendimento neurológico por queda no rendimento escolar e podem ter o seu diagnóstico confundido com o “déficit de atenção”. Esse equívoco pode levar a diagnóstico e intervenção tardios. O diagnóstico é feito com uma história médica bem detalhada, associada ao exame neurológico completamente normal e a ocorrência de crises provocadas pela manobra de hiperventilação. A eletroencefalograma mostra um padrão típico de complexo espícula-onda a 3 Hz.

O tratamento da epilepsia ausência infantil é simples e a grande maioria dos pacientes responde adequadamente às medicações.

Por fim, deve-se sempre lembrar que pacientes com a epilepsia de ausência na infância precisam ser respeitados e compreendidos pelas pessoas de seu convívio, além de incentivados a melhor aceitar a doença. Para isso, é necessário paciência no momento em que acontece a crise, esperando que ela passe espontaneamente e ajudando o paciente ao manter o ambiente tranquilo durante e depois do evento. Mais que isso, para estimular o processo de aprendizagem e o bom desempenho escolar, é fundamental que os pais, professores e profissionais envolvidos no diagnóstico aliem-se, propiciando à criança um ambiente de aceitação e tratamento adequado, onde possa desenvolver-se adequadamente e ter uma melhor qualidade de vida.

Cristiana Mascarenhas, aluna do 6° período de medicina na UFOP.

Referências:

Assessoria de Imprensa UCB. Cinco fatos sobre as crises de ausência. Liga Brasileira de Epilepsia. Disponível em: <https://epilepsia.org.br/artigo/cinco-fatos-sobre-as-crises-de-ausencia/>. Acesso em: 28/08/2020.

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