Enxaqueca e o uso abusivo de analgésicos

Enxaqueca e o uso abusivo de analgésicos

A dor de cabeça, também conhecida como cefaléia, é uma das queixas médicas mais comuns, apresentando-se com as características e intensidades mais variadas entre os indivíduos acometidos. Para o diagnóstico (e, portanto, o tratamento) correto, a International Headache Society (Sociedade Internacional de Cefaléia, entidade composta pelos maiores especialistas no assunto de todo o mundo, fundada na Alemanhã em 1982 pelo já falecido neurologista Prof. Dr. Dieter Soyka) criou, em 1988, a Classificação Internacional de Cefaléias.

Atualmente, com sua Terceira Edição publicada oficialmente em 2018, conta com cerca de mais de 150 tipos de cefaleia, a fim de orientar os profissionais ao diagnóstico e tratamento mais assertivos.

Entre estes tipos, encontra-se a Enxaqueca, também chamada de Migrânea. A enxaqueca é a segunda causa mais comum de dores de cabeça em todo o mundo, estimando-se acometer cerca de 15-20% da população brasileira. Esta pode acometer indivíduos em todos as faixas etárias, tendo-se as mulheres jovens, dos 25 aos 45 anos, como predominantes. Recentemente, a OMS passou a classificar a Enxaqueca como uma das doenças potencialmente incapacitantes, tamanho os possíveis prejuízos emocional, social e econômico associados.

Em termos de frequência, de acordo com a Classificação Internacional de Cefaléias, a Enxaqueca pode ser classificada em Episódica (menos de 15 episódios de dores de cabeça por mês e/ou menos de 8 crises características de enxaqueca por mês) ou Crônica (na presença de 15 dias ou mais de dores de cabeça por mês, por pelo menos 03 meses, sendo que destes, 08 episódios por mês são característicos de crises de enxaqueca).

Por tratar-se de condição muitas vezes bastante limitante, é uma das (se não a) queixa mais frequente dos pacientes no consultório de um neurologista, além de também compreender parcela expressiva dos atendimentos no Pronto-Socorro.

Estas pessoas buscam por alívio às suas terríveis e incapacitantes dores de cabeça, que frequentemente comprometem gravemente sua qualidade de vida. Tendo em vista sua característica intensa e limitante, muitos indivíduos acabam por tomar uma postura protagonista no tratamento das crises de enxaqueca, recorrendo aos mais variados analgésicos (medicamentos para dor) e anti-inflamatórios, na esperança de poder dirimir tamanho incômodo.

Contudo, a falta de orientação médica adequada, o desespero por sanar a condição e a grande facilidade em se adquirir analgésicos sem prescrição médica (os chamados “Over-the-counter” ou “Atrás-do-balcão”, fazendo alusão ao termo em inglês que se refere aos medicamentos que não necessitam oficialmente de prescrição médica para comercialização) agem conjuntamente para levar ao que se chama de Uso Abusivo de Analgésicos.

O conceito de Uso Abusivo de Analgésicos consiste no uso de tais medicações, de 2 a 3 vezes por semana, por pelo menos 3 meses consecutivos. Uma vez que, para muitos dos indivíduos acometidos, os episódios de dores de cabeça da enxaqueca podem alcançar (e, inclusive, ultrapassar) tal frequência, fica fácil imaginar que a prevalência de pessoas em risco ou já praticando tal uso inadequado é grande e cada vez maior.

E qual o problema com uso recorrente e inadequado dessas medicações?

Bem, além dos já conhecidos e difundidos efeitos colaterais dessas medicações (como lesão aos rins, estômago e intestino), o Uso Abusivo de Analgésicos é um fator capaz de levar ao que se chama de Transformação/Cronificação da Enxaqueca, levando a episódios mais frequentes, intensos, duradouros e refratários ao tratamento. Portanto, a incapacidade gerada pela Enxaqueca faz-se ainda mais grave.

Portanto, como evitar o Uso Abusivo de Analgésicos e a Cronificação da Enxaqueca?

Primeiramente, é muito importante que o diagnóstico correto do tipo de dor de cabeça, a consequente identificação da enxaqueca e os possíveis gatilhos das crises, sejam feitos. Para tanto, uma avaliação neurológica detalhada é o ideal.

Assim, de acordo com o perfil de cada paciente, de modo individualizado, será proposto um tipo de tratamento, a fim de minimizar o máximo possível a quantidade e intensidade de crises e proporcionar melhor qualidade de vida. Aos pacientes com crises mais limitantes e/ou frequentes, serão ofertados os tratamentos ditos como profiláticos. A profilaxia (ou seja, o braço do tratamento que visa impedir a ocorrência das crises de enxaqueca) consiste primariamente no uso de medicamentos de tomada diários, mudanças comportamentais e alimentares, prática de atividades físicas e hábitos de vida saudáveis, psicoterapia e higiene do sono. Aliados a estes, encontram-se arsenais como dispositivos e aplicação de toxina botulínica.

E você, sofre de dores de cabeça? Usa e abusa de analgésicos? Fique atento!

Marcadores: