Conceito Neuroevolutivo Bobath

foto de uma criança deitada e uma fisioterapeuta alongando um de seus braços

Conceito Neuroevolutivo Bobath

INTRODUÇÃO

O conceito Bobath foi criado e desenvolvido no início dos anos 1940 pelo Dr. Karel Bobath (Psiquiatra e Neurofisiologista) e Berta Busse Bobath (Educadora Física e Fisioterapeuta). A técnica foi descrita primeiramente em 1948 e em 1951, após Berta receber o título de fisioterapeuta, os Bobath abriram sua clínica em Londres, a Western Cerebral Palsy Centre.

O casal Bobath dividiam um profundo interesse em compreender os problemas dos adultos e crianças com deficiências neurológicas e exploraram como a terapia desenvolvida por Berta poderia fazer a diferença na habilidade para moverem-se. Karel publicou então o livro “Base Neurofisiológica para o tratamento da Paralisia Cerebral” que deu o embasamento científico para o conceito da terapia neuroevolutiva.

Na década de 60, com o objetivo de prevenir as deformidades incapacitantes causadas pela Paralisia Cerebral, Miss Mary Quinton (Fisioterapeuta) e Dra. E Köng (Neuropediatra), ambas formadas pelo conceito com Berta Bobath, iniciaram um trabalho pioneiro no tratamento de bebês por meio da intervenção precoce em bebês de risco e em bebês com padrões de movimentos atípicos.

Desde então, o conceito Bobath, desenvolvido por Mrs. Berta e Dr. Karel na década de 50, tem sido praticado no mundo todo e tem se evoluído e aprimorado.

O CONCEITO

O Conceito Bobath está definido como uma abordagem de resolução de problemas para avaliar e tratar indivíduos com distúrbio da função, movimento e controle postural, devido a uma lesão do sistema nervoso central, independente do grau de incapacidade. O tratamento é baseado no entendimento dos componentes da função e dos movimentos normais, ou seja, é uma Abordagem Funcional. E seu objetivo é que o indivíduo alcance essa função com a máxima qualidade possível, considerando os limites do indivíduo e do ambiente, otimizando desta forma sua Atividade e Participação, e subsequente qualidade de vida. Sendo desta forma congruente com a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade).

Fig 1. Modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF)
Organização Mundial da Saúde, 2003

É aplicável para crianças e adultos com comprometimento neurológico, sendo no universo infantil, mais comumente aplicável em crianças com paralisia cerebral ou encefalopatias crônicas não evolutivas.

O TRATAMENTO

A reabilitação da criança com paralisia cerebral é baseada em otimizar o seu potencial funcional e prevenir complicações secundárias, como encurtamentos e deformidades.

O conceito Bobath visa otimizar movimentos e funções com a maior qualidade possível, por meio de manuseios e facilitações que influenciam na adequação do tônus e no controle postural da criança.

O planejamento terapêutico baseado no conceito Bobath é definido a partir de uma avaliação minuciosa que inclui não só seus componentes sensoriais e motores, mas considera também o seu desejo, expectativas e as preocupações da família. Essa avaliação nada mais é do que uma análise observacional detalhada da sequência de movimentos durante o desempenho de uma tarefa escolhida pela criança ou família, permitindo ao avaliador determinar como o movimento difere do comportamento motor típico, incluindo também a análise das compensações utilizadas. A partir daí é construído um raciocínio clínico de quais sistemas podem estar comprometendo a execução desta tarefa, e determinam-se as estratégias terapêuticas, sempre levando em consideração o potencial do paciente para uma recuperação funcional positiva, sustentada pelo princípio da plasticidade neuromuscular e do aprendizado motor, não deixando de reconhecer a limitação trazida pelo déficit neurológico. Lembrando sempre que o movimento funcional depende da tarefa escolhida, e sofre interferências do ambiente e de fatores pessoais.

Fig. 2. Esquema da relação e influência dos diferentes sistemas sobre o movimento funcional.

Fig. 3. Interrelação tarefa, indivíduo e ambiente sobre o movimento funcional.

As reavaliações são periódicas para estabelecimento de novas metas terapêuticas e readequação de objetivos
A família e a rede de cuidadores da criança são parceiros durante todo o tratamento e o seu envolvimento e participação são fundamentais. É para eles que são direcionadas as orientações para continuidade do cuidado em casa.

O tratamento tem característica interdisciplinar e centrado no paciente, sendo comum terapias conjuntas com diferentes especialidades (exemplo: terapia conjunta de fisioterapia e terapia ocupacional para otimizar o treino motor e funcional em uma determinada atividade como vestir-se, por exemplo).

As terapias também costumam ter componente lúdico para adequar ao universo infantil e ir ao encontro dos interesses da criança, afinal, a atividade principal da criança é brincar. É por meio da brincadeira que a criança aprende e se desenvolve e as alterações causadas pela paralisia cerebral podem comprometer o seu potencial de explorar o meio e os brinquedos.

O objetivo final é que a criança seja capaz de transportar para o dia a dia os ganhos adquiridos nas sessões de terapia.

  

Fig. 4. Fotos ilustrativas do conceito Bobath

Referências Bibliográficas

1. Panturin, E. The Bobath Concept. Clinical Rehabil. 2001 Feb; 15(1):111-3.
2. Brock,K., Jennings, K., Stevens, J., Picard, S. The Bobath Concept has changed. Aust J Physiother. 2002; 48(2):156-7.
3. Raine, S. The current theoretical assumptions of the Bobath concept as determined by the members of BBTA. Physiotherapy Theory and Practice. 2006; 23: 137-152
4. Raine, S. Defining the Bobath concept using the Delphi technique. Physiotherapy Research International. 2006; 11:4-13
5. CIF-Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e de Saúde. OPS (Organização Panamericana de Saúde) e OMS (Organização Mundial de Saúde) – Centro Colaborador da OMS para classificação de doenças em português Universidade de São Paulo. EDUSP – 2003
6. Mindy F.L., Panturin, E. Sensoriomotor integration for functional recovery and the Bobath Approach. Motor Control, 2011; 15:285-30
7. Howle J.M., “Neurodevelopmental Treatment Approach – Theoretical Foundation and Principles of clinical practice”. Third printing updated, 2007. Neurodevelopmental Treatment Association.
8. Michaelsen, S. M., Dannenbaum, R., & Levin, M. F. Task-Specific training with trunk restraint on arm recovery in stroke. Stroke. 2006; 37: 186- 192.
9. International Bobath Instructors Training Association. (2008). Theoretical Assumptions and Clinical Practice Retrieved October 29, 2012, from http://www.ibita.org
10. Cott, C., Vaughan-Graham, J. & Brunton, K. When will the evidence catch up with clinical practice. Letter to the Editor. Physiotherapy Canada. 2011; 63(3): 387-390
11. Vaughan-Graham, J., Eustace, C., Brock, K., Swain, E. & Irwin-Carruthers, S. The Bobath concept in contemporary clinical practice. (Grand Rounds)(Report). Topics in Stroke Rehabilitation. 2009; 16(1): 57-68.
12. Who. Towards a Common Language for Functioning, Disability and Health ICF. Geneva: World Health Organization.2002
13. Mayston, M. Neurodevelopmental Treatment (NDT) – A vision from the United Kingdom. The Neurodevelopmental Treatment Association. March- April. 2005; Vol 12, Issue 2.
14. Cayo, C., Diamond, M., Bovre, T., et al. The NDT – Bobath neurodevelopmental treatment. Approach. NDTA Network. 2015; 22 (2):1
15. Bierman, J.C., Franjoine, M.R., Hazzard, C.M., Howle, J.M., Stamer, M. Neurodevelopmental Treatment. A guide to NDT clinical practice. Thieme Publishers. 2016
16. Bobath, B. Motor development,its effect on general development, and application to the treatment of cerebral palsy. Physiotherapy. Nov; 1971
17. Bobath,K. The normal postural reflex mechanism and its deviation in children with cerebral palsy. Physiotherapy. Nov; 1971

Links de interesse:

1. Abradimene: Associação Brasileira para desenvolvimento e divulgação do conceito neuroevolutivo Bobath
Informações sobre o conceito Bobath no Brasil, cursos de formação e instrutores do método.
http://www.abradimene.org.br/

2. Centro Bobath para crianças com paralisia cerebral em Londres, Inglaterra (site em inglês).
Informações sobre a técnica e atendimentos locais nas modalidades regular e intensiva.
https://www.bobath.org.uk/about-us/bobath-therapy

3. ABPC Associação Brasileira de Paralisia Cerebral
https://www.paralisiacerebral.org.br/

4. IBITA: International Bobath Instructors Training Association (site
em inglês)

Home

5. AconBobath – Brasil (Associação de Instrutores Pediátricos do
Conceito Bobath – Brasil)
Informações sobre o Conceito Bobath aplicado à avaliação e
tratamento de crianças e bebês com disfunção neuromotora,
cursos de formação e instrutores do método.
http://www.aconbobath.com.br/

Marcadores:
,