Autismo e COVID-19: como reduzir os impactos negativos da pandemia.

Autismo e COVID-19: como reduzir os impactos negativos da pandemia.

Escrito por: Karla Emily Masotti, acadêmica do XXº da USCS – SCS9., sob orientação da Dra. Christiane Cobas, Neurologista Infantil do INISP.  Projeto Padrinhos Med

Indivíduos diagnosticados com “Transtorno do Espectro Autista” (TEA) têm como características falhas na comunicação social, comportamentos repetitivos e restritos, além de dificuldade em atividades lúdicas. A pandemia de COVID-19 pode afetar de maneira negativa essas pessoas, devido às mudanças no cotidiano provocadas pelas medidas de contenção da pandemia, como o isolamento social. Entretanto, é sempre importante lembrar que o autismo não é considerado um fator de risco para a COVID-19.

Nesse texto, encontram-se algumas informações de como familiares e outras pessoas que convivem com indivíduos com TEA podem passar por esse momento de isolamento social, de forma que se reduzam os impactos negativos na vida tanto dos autistas, quanto das pessoas em seu entorno.

Como reduzir as chances de infecção?

As medidas de higiene são muito importantes. É comum indivíduos com TEA terem grande interesse em diversos aspectos dos objetos, podendo tocá-los, levá-los à boca ou ao nariz para a percepção do cheiro. Então, é importante manter a residência limpa, higienizar as compras ao chegar em casa, e as pessoas que permanecem trabalhando fora de casa precisam estar atentas às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

TEA e o uso da máscara

Alguns podem não entender a necessidade do uso da máscara, resistindo ao seu uso ou tentando remover a máscara do cuidador. Tal uso pode gerar sofrimento e crises em crianças com TEA, devendo-se intensificar outras medidas de prevenção. No dia 02/07/2020 foi sancionada a lei federal n° 14.019 que dispensa a obrigatoriedade do uso de máscara para pessoas com TEA e outras deficiências que geram dificuldades no uso de forma adequada desse instrumento de proteção.

A mudança de rotina e as alterações comportamentais e emocionais.

Manter a rotina é fundamental. Deve-se tentar manter a maior parte da rotina que já se vivenciava anteriormente, com os mesmos horários de dormir/acordar, tomar banho, comer, entre outros. Isso ajudará na organização mental, ajudando esses indivíduos a se acalmarem e também, uma rotina previsível é mais confortável para eles. Além disso, o isolamento social também pode gerar estresse, ansiedade, comportamentos agressivos e autolesivos. Então, as famílias podem sentir necessidade de sair de casa, mas deve-se preferir locais abertos, em horários em que há menor movimentação nas ruas, permitindo a exploração de ambientes externos à casa. Isso não é recomendado à população no geral, mas tem ajudado a amenizar e prevenir o sofrimento de pessoas com TEA.

Como explicar sobre a pandemia e a quarentena?

Ao abordar esse assunto, deve-se ser sincero, e passar as informações de maneira simples e direta, de forma que elas sejam compreensíveis. Autistas com inteligência normal ou acima da média podem compreender tais mudanças de rotina, porém são mais sensíveis ao estresse, do que pessoas sem o transtorno. Em casos de quadros de TEA mais graves, pode haver dificuldade de entender essa nova rotina, assim pode ser necessário que se repita/aborde o assunto diversas vezes.

Atividades escolares

Se possível, deve-se manter as atividades escolares por vídeo chamada, no mesmo horário que a criança frequentava a escola. Pode se manter os horários de recreio, utilizar o uniforme escolar, preparar a lancheira, mantendo os hábitos da rotina anterior. Se isso não for possível, os responsáveis podem entrar em contato com a escola para buscar alternativas. Além disso, é importante manter os vínculos e o contato social com colegas por vídeo chamada ou telefone.

Consultas médicas e outras terapias

As terapias com fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas, entre outros deveriam ser mantidos por vídeo chamada, com a mediação de um responsável, seguindo os horários de atendimento presencial. Essas sessões, além de evitar que sejam perdidas habilidades já conquistadas, podem reduzir a ansiedade.

O atendimento médico de rotina também deve ser mantido à distância, por meio da telemedicina.

Como organizar o tempo livre?

Os temas de interesse específico das crianças com TEA podem ser usados para criar atividades em conjunto com a família. Podem ser propostas brincadeiras que envolvam os diferentes sentidos, utilizando materiais com diferentes texturas e alimentos com diferentes cores e sabores. Muitos gostam de música, podendo ter preferência para certos ritmos ou repetições de melodias. Pode-se pedir ajuda nas tarefas domésticas, respeitando o nível de desenvolvimento de cada indivíduo. Deve-se estimular atividades físicas como pular corda, dançar, criação de circuitos dentro de casa, e se houver a disponibilidade, aproveitar os espaços externos da residência, como o quintal. Estabeleça regras quanto ao uso de telas (videogame, internet), devido ao risco de exagero, que pode levar ao aumento do isolamento social.

E se a pessoa com TEA ficar doente?

Há a necessidade de realizar testes de COVID-19 em casa para pessoas com TEA, pois ao irem a um serviço de emergência, a dificuldade que eles terão para manter o distanciamento social pode aumentar o risco deles se infectarem ou infectarem outras pessoas.

Saúde mental dos responsáveis/pais/cuidadores

É importante ressaltar que esse período vai passar e o isolamento é um cuidado necessário. As consultas regulares com os terapeutas podem ajudar com o estresse. É fundamental sempre buscar informações oficiais, evitando fake news e especulações.

Deve-se evitar comentários preocupantes próximos aos indivíduos com TEA, para não provocar desorganização emocional. O cuidador também deve ter um tempo dedicado ao seu descanso, lazer e bem estar emocional.

Atenção:

Apesar da rara ocorrência, pais, responsáveis ou cuidadores de pessoas com TEA podem ser contaminados, necessitar hospitalização ou até mesmo morrer. Os responsáveis devem providenciar os documentos relacionados à guarda do indivíduo com TEA, com alternativas à continuidade do cuidado e suporte.

Referências:

Brito AR, Almeida RS, Crenzel G, Alves ASM, Lima RC, Abranches CD. Autismo e os novos desafios impostos pela pandemia da COVID-19. – Revista de Pediatria SOPERJ. ;():1-6

Eshraghi AA, Li C, Alessandri M, et al. COVID-19: overcoming the challenges faced by individuals with autism and their families. Lancet Psychiatry. 2020;7(6):481-483. doi:10.1016/S2215-0366(20)30197-8 Fernandes, Amanda Dourado Souza Akahosi; Speranza, Marina; Mazak, Mayara Soler Ramos; Gasparini, Danieli Amanda; Cid, Maria Fernanda Barboza. Desafios cotidianos e possibilidades de cuidado às crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frente à COVID-19. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional/Brazilian Journal of Occupational Therapy, Preprint, 2020