Impacto da Exposição Às Telas No Desenvolvimento Cognitivo das Crianças

Impacto da Exposição Às Telas No Desenvolvimento Cognitivo das Crianças

Escrito por: Maria Cecilia Holanda, acadêmica do 6º. Período da Faculdade Pernambucana de Saúde, sob supervisão da Dra. Christiane Cobas, Neurologista Infantil e Neurofisiologista do INISP, CRM/SP 71369.Projeto Padrinhos Med.

Na era digital em que vivemos, a exposição de crianças às diferentes tecnologias digitais (computador, tablet, celular, televisão, videogame) é cada vez mais precoce. Não é raro ver crianças com menos de 1 ano de idade sendo expostas a algum tipo de tela, seja a da televisão, do celular, do tablet, como uma espécie de brinquedo ou distração. Porém, esse contato cada vez mais precoce e intenso pode afetar o desenvolvimento cognitivo das crianças.

“Cognição” é um termo que envolve diversos processos mentais, como raciocínio, atenção, percepção, solução de problemas, memória e compreensão. O desenvolvimento cognitivo depende do desenvolvimento do cérebro, mas também sofre influência dos estímulos ambientais que a criança recebe, principalmente nos primeiros anos de vida, período no qual o sistema nervoso tem a maior capacidade de se reorganizar e se adaptar de acordo com experiências da criança.

Para o desenvolvimento neurocognitivo pleno, é necessário que ocorram diferentes estímulos sensoriais de tato (aconchego), calor e frio, olfato, paladar, visão e audição, uma vez que eles têm influência sobre a produção de neurotransmissores e conexões entre neurônios. As interações afetivas dos pais e familiares com a criança têm papel essencial nesse processo, não podendo ser substituídas por qualquer tipo de estímulo virtual. Isso é ainda mais relevante no contexto de crianças menores de 2 anos de idade.

Impacto das telas em crianças menores de 2 anos:

A exposição passiva às telas por períodos prolongados tem sido associada a atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem como um todo. Isso ocorre porque a distração promovida pela tecnologia digital diminui a quantidade e a qualidade da interação entre pais e filhos. Essas interações, principalmente a linguagem direcionada à criança, são cruciais para o desenvolvimento cognitivo, em especial da linguagem e de funções executivas, como atenção e memória. Por isso, o uso em excesso de aparelhos eletrônicos pelos pais também pode afetar negativamente o desenvolvimento cognitivo dos filhos.

Esse efeito negativo sobre funções cognitivas é observado, por exemplo, em crianças com menos de 2 anos que brincam enquanto a televisão está ligada, pois tais crianças apresentam dificuldade em manter de forma sustentada uma brincadeira, mesmo que elas não estejam realmente assistindo à TV. Ou seja, elas têm dificuldade em concentrar sua atenção em uma atividade, devido aos sons e iluminação da TV presentes no fundo.

Os estímulos visuais e auditivos não são suficientes para o desenvolvimento completo das habilidades motoras, emocionais, de comunicação e interação social nas crianças até os 2 anos de idade. Mais do que isso, até o momento, não existem evidências de que a exposição às tecnologias digitais possa trazer qualquer benefício nessa faixa etária.

Impacto das telas em crianças maiores de 2 anos:

A partir dos 2 anos de idades, as crianças são capazes de aprender com programas destinados à sua faixa etária. É mandatório que haja supervisão dos pais e cuidadores para garantir que o conteúdo oferecido seja adequado. A exposição a programas e jogos com conteúdo violento pode estimular comportamentos agressivos e antissociais e está totalmente desaconselhada.

Videogames e redes sociais são capazes de ativar os mecanismos de recompensa do sistema nervoso, que podem promover dependência e ansiedade. Pode haver, também desenvolvimento de comportamentos impulsivos, irritabilidade, perda de empatia. Tais comportamentos afetam negativamente o relacionamento familiar e social, além de poder contribuir para o desenvolvimento de transtornos do aprendizado escolar.

Outro problema causado pela exposição excessiva às telas é o comprometimento do sono. É sabido que a quantidade e a qualidade do sono são fundamentais para a produção de hormônios essenciais para o desenvolvimento infantil, tanto físico quanto mental, além de contribuir para a memória e atenção. A falta de sono provoca prejuízos na atenção, no aprendizado e até no humor das crianças.

Recomendações quanto ao tempo de tela, de acordo com a faixa etária:

  • < 2 anos: evitar a exposição às telas.
  • 2 a 5 anos: limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora por dia, sempre com supervisão.
  • 6 a 10 anos: limitar o tempo de telas ao máximo de 1 a 2 horas por dia, sempre com supervisão.
  • 11 a 18 anos: limitar o tempo de telas e jogos de videogames a 2 a 3 horas por dia; não permitir que o adolescente ultrapasse do horário em que deveria estar dormindo.

Além de seguir essas recomendações, é importante:

  • Desestimular o isolamento das crianças e adolescentes. Priorizar a utilização dessas tecnologias digitais nos ambientes comuns da casa, ao invés dos quartos.
  • Não permitir o uso de telas durante as refeições.
  • Não utilizar as tecnologias digitais 1 a 2 horas antes de dormir, a fim de promover um sono de qualidade.

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